Psicoterapia: uma viagem ao centro de si mesmo

Um desafio

A ideia do tema, além de ser um texto inaugural deste blog, se tornou um grande desafio: como escrever sobre psicoterapia de forma breve, numa linguagem clara, acessível e com certa originalidade? Foi assim, com estes questionamentos em mente, diante do teclado do computador, que me dei conta de que as respostas para estas perguntas tão específicas sobre o texto que estava prestes a produzir não respondiam apenas uma dúvida literal, mas também estavam a serviço de definir qual seria meu propósito como autor deste site: aceitar o desafio de produzir textos objetivos, claros, informais e originais. E é sobre este processo de se dar conta, que também esta reflexão se propõe.

O que é psicoterapia?

Responder esta primeira questão não é uma tarefa simples, mediante a complexidade em definir de forma breve algo tão pluralizado. Mas, como o desafio foi aceito, podemos afirmar que psicoterapia é a utilização de uma ou mais técnicas especializadas para:

  • promoção do autoconhecimento;
  • reconhecimento e fortalecimento de recursos psicológicos;
  • compreensão e resolução de conflitos intrapessoais e interpessoais;
  • tratamento de transtornos mentais.

A sequência de definições acima foi propositalmente colocada numa ordem que parte da saúde ao adoecimento, justamente para esclarecer que a psicoterapia não serve apenas para o tratamento do que é disfuncional, mas que aplicada cada vez mais ao desenvolvimento humano de forma ampla. E tem sido muito comum, por exemplo, encontrar nas redes sociais frases e textos que transmitem a ideia de que fazer psicoterapia é um recurso essencial para lidar com quem não faz. Isso aponta para uma radical mudança de paradigmas onde, num passado não tão distante, poucos assumiam que faziam tratamento por conta da associação entre psicoterapia e doença. Hoje, felizmente, percebemos um grande número de pessoas muito orgulhosas em afirmar que frequentam consultórios psicoterápicos e que estão bastante determinadas em difundir esta prática ao mundo.

Quais são os tipos de psicoterapia?

Agora que já definimos sucintamente o que é psicoterapia, parece coerente respondermos sobre os tipos diversos de abordagens teóricas psicoterápicas. Para isso, antes se faz necessário situar a ciência da psicologia clínica como um grande e complexo mosaico de diferentes compreensões sobre o ser humano e o mundo. E isso significa a existência de uma série de entendimentos sobre a natureza do aparato psicológico e como ele se desenvolve ao longo do ciclo vital.

As escolas teóricas mais comuns nos consultórios de psicólogos psicoterapeutas são a Psicanálise, a Psicoterapia Cognitivo-comportamental e as psicoterapias humanistas. O termo “escolas teóricas” remete a grupos que se ramificam dentro da mesma abordagem. Dentro da escola psicanalítica, por exemplo, existem a psicoterapia Lacaniana, Winnicotiana, Psicoterapia de Orientação Analítica, entre outras. E cada abordagem terá alguma peculiaridade que se expressará em uma forma específica de compreender e intervir com o paciente ou cliente (as escolas humanistas utilizam este termo).

Vou recorrer novamente à psicanálise, como exemplo, na comparação entre uma sessão de Análise, onde o terapeuta utiliza de uma postura pouco ativa; e a psicoterapia de orientação analítica, que permite maior interatividade na relação entre paciente e terapeuta. Talvez, nesta altura, você esteja se perguntando sobre qual a importância de sabermos da existência de todos esses tipos de psicoterapias. Digo, então, que a importância está em compreendermos que cada escola, e suas ramificações, buscam aprimorar e adaptar suas teorias e técnicas com objetivo de obterem melhores resultados frente aos mais diversos desafios psicológicos.

Em mais um exemplo, temos a Terapia do Esquema, que é uma linha teórica jovem e inovadora, que integra elementos das escolas cognitivo-comportamental e psicanalítica e que apresenta excelentes resultados comprovados no tratamento do transtorno de personalidade borderline. Assim, quando você procurar um psicoterapeuta, busque questionar qual abordagem teórica ele utiliza e se esta técnica poderá auxiliá-lo, de acordo com sua demanda.

Mas afinal, o que acontece em uma sessão de terapia?

Apesar da diversidade entre as psicoterapias, como vimos acima, o processo psicoterápico, de modo geral, apresenta uma certa padronização estrutural. Isto significa, na prática, que o paciente não saberia identificar facilmente a linha de trabalho de um terapeuta logo em um primeiro contato. Com algumas exceções, a salas de atendimento dos psicoterapeutas dispõe de uma configuração muito similar: a poltrona do terapeuta, a poltrona (ou sofá) dos pacientes, e demais móveis e objetos de decoração.

Mas as semelhanças não são apenas físicas. Existem uma série de regras e procedimentos que também são comuns a todas as abordagens e que compõe, juntamente com o espaço físico da sessão, o que chamamos tecnicamente de setting terapêutico. E isso se refere as regras que como a utilização do ambiente e recursos físicos, horários, atrasos, faltas, remarcações, agendamentos, pagamentos, sigilo, condutas, etc.

E com estas regras e combinações bem estabelecidas o trabalho iniciará, partindo de uma investigação sobre os motivos e objetivos (diagnóstico) em direção de intervenções que terão a capacidade de promover mudanças significativas e duradouras. Costumo dizer que, ao longo da trajetória de nosso trabalho, o paciente terá um olhar exclusivo, livre de julgamentos e repleto de compreensão. Apesar desse olhar ser criteriosamente técnico, ele também é humano; portanto, essencialmente empático.

Talvez, o que seja pouco dito aos pacientes por seus terapeutas é que nesta viagem que a psicoterapia promove a eles, nós também somos passageiros. Daquele tipo que, apesar de conhecer o caminho por percorrê-lo diariamente, está sempre atento as singularidades e detalhes da paisagem que muda a cada viagem. Assim, esta experiência compartilhada nos modifica, invariavelmente, a cada sessão finalizada.

E voltando a falar sobre a capacidade que desenvolvemos de nos darmos conta, naturalmente, sinto que devo encerrar este texto agradecendo a todas aquelas pessoas que, ao longo destes mais de dez anos, foram meus parceiros de trabalho na díade que compõe a psicoterapia. Saibam que mantenho um imenso respeito e admiração por suas histórias e conquistas, que pude ter o privilégio de testemunhar pelo período em que estive presente na vida de cada um. A todos vocês, meu muito obrigado!

Para saber mais:

Revisão da literatura sobre a diferença entre Psicanálise e psicoterapia psicanalítica

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