Autocuidado Digital: Encontre o Equilíbrio Saudável no Mundo Virtual

Smartphones, redes sociais, aplicativos e demais dispositivos eletrônicos fazem parte do nosso cotidiano, tornando-se ferramentas essenciais em diversas áreas de nossas vidas. No entanto, nessa era digital, surge a necessidade de adotarmos práticas conscientes e saudáveis, conhecidas como autocuidado digital, que buscam encontrar equilíbrio no mundo virtual.

Tais práticas surgem a medida que a ciência vem apontando os efeitos negativos do mau uso das tecnologias digitais, que vão desde transtornos emocionais até alterações físicas importantes. O autocuidado digital refere-se ao ato de cuidar de nós mesmos enquanto navegamos pelo vasto mundo online, como forma de prevenção destes efeitos ruins. Não se trata apenas de saber utilizar as tecnologias, mas sim de encontrar um equilíbrio saudável entre o uso dessas ferramentas e o nosso bem-estar geral. É sobre proteger nossa saúde mental, emocional e física, além de garantir nossa privacidade e segurança na internet.

A ideia deste texto veio da observação dos relatos dos meus pacientes ao longo dos últimos anos, além da minha auto percepção sobre como me relaciono com o mundo digital. A intenção é de orientar e conscientizar o público em geral sobre a importância de adotar práticas que promovam um relacionamento equilibrado com a tecnologia, a fim de desfrutar de seus benefícios sem prejudicar nossa saúde e qualidade de vida.

Importância do autocuidado digital na saúde

  1. Preservação da saúde mental: O autocuidado digital nos ajuda a proteger nossa saúde mental em um mundo digital repleto de estímulos constantes. Ao estabelecer limites no uso das tecnologias, podemos evitar a sobrecarga de informações, reduzir a exposição a conteúdos negativos e criar espaços de descanso mental. Isso contribui para diminuir o estresse, a ansiedade e a pressão que muitas vezes estão associados ao uso excessivo da tecnologia, principalmente das redes sociais, que geralmente estão associadas ao aumento da baixa autoestima e auto cobrança, por estimularem a comparação entre as pessoas.
  2. Promoção de uma postura saudável e prevenção de problemas físicos: O uso prolongado de dispositivos eletrônicos pode levar a problemas físicos, como dores nas costas e pescoço. O autocuidado digital inclui a adoção de posturas corretas ao utilizar dispositivos, a prática de pausas regulares para alongamento e exercícios visuais, bem como o estabelecimento de limites de tempo para evitar o sedentarismo causado pelo uso excessivo de tecnologia, especialmente entre crianças e adolescentes, que vem apresentando alterações no desenvolvimento da coluna.
  3. Conscientização sobre a qualidade do sono: A exposição excessiva à luz azul dos dispositivos eletrônicos antes de dormir pode interferir na qualidade do sono. O autocuidado digital envolve estabelecer uma rotina de desligamento das telas antes de dormir, criando um ambiente propício ao sono e garantindo um descanso adequado. Isso contribui para melhorar a qualidade do sono, o que, por sua vez, tem um impacto positivo em nossa saúde física e mental.
  4. Falta de atenção e produtividade reduzida: O constante acesso a notificações, mensagens e conteúdos online pode levar a uma distração frequente e à dificuldade de concentração. Isso pode afetar negativamente a produtividade, a capacidade de aprendizado e a realização de tarefas importantes. Inúmeros estudos tem apontado prejuízos cognitivos pelo uso excessivo de telas, e este será um assunto que trarei em outra oportunidade pela grande importância, principalmente entre crianças e adolescentes.
  5. Impacto na saúde ocular: O uso prolongado de telas pode causar problemas oculares, como fadiga ocular, olhos secos, visão embaçada e irritação. A exposição constante à luz azul emitida pelas telas também pode afetar a saúde dos olhos a longo prazo.

Segurança e vida social

Os impactos do mundo virtual não são apenas no nosso corpo, mas também na vida social e na nossa segurança, o que reforça a prática do autocuidado digital:

  1. Promoção da privacidade e segurança online: O autocuidado digital inclui a adoção de medidas para proteger nossa privacidade e segurança no mundo digital. Isso envolve o uso de senhas fortes, a ativação de autenticação em duas etapas, a verificação da segurança dos sites que visitamos e a conscientização sobre práticas seguras na internet. Dessa forma, podemos reduzir os riscos de roubo de identidade, fraude online e exposição a ameaças cibernéticas, que são riscos reais aos quais somos expostos.
  2. Equilíbrio entre vida online e offline: estar “online” pressupõe a existência do “offline”. Se você é constantemente acionado pelo seu telefone, desde que acorda até a hora de dormir, é bastante óbvio que a balança está pesando apenas para um lado. A prática do autocuidado digital pode lhe proporcionar uma reconexão com a vida natural e os contatos reais, tão importantes para nossa saúde.
  3. Isolamento social: Embora a tecnologia possa conectar as pessoas, quando seu uso é excessivo, pode levar ao isolamento social. Passar muito tempo imerso no mundo virtual pode levar à diminuição da interação face a face, prejudicando relacionamentos pessoais e contribuindo para a sensação de solidão. Nos desenvolvemos enquanto seres humanos nos desafios do mundo real, com interação física, através de todos os nossos sentidos! As relações virtuais podem promover estagnação, resistência e exposição a relacionamentos fictícios, que podem até ser simulados por pessoas mau intencionadas.

O que fazer para encontrar o equilíbrio?

  1. Estabeleça limites de tempo: Defina um tempo máximo diário para o uso de dispositivos eletrônicos. Isso ajuda a evitar o uso excessivo e garante tempo para outras atividades importantes.
  2. Desconecte-se regularmente: Reserve momentos para ficar desconectado(a) completamente da tecnologia. Desligue o celular, desative notificações e dedique-se a atividades offline que tragam prazer e relaxamento.
  3. Pratique a higiene digital: Cuide da sua segurança online. Use senhas fortes, mantenha seu software atualizado e tome cuidado ao compartilhar informações pessoais. Utilize programas de segurança, como antivírus e firewalls, para proteger seus dispositivos.
  4. Gerencie as notificações: A constante interrupção das notificações pode causar distração e ansiedade. Analise quais notificações são realmente necessárias e desative as desnecessárias. Isso ajudará a manter o foco e reduzir a sobrecarga de informações.
  5. Crie um ambiente digital saudável: Faça uma limpeza nas suas redes sociais, removendo contas ou grupos que tragam negatividade ou que não agreguem valor à sua vida. Siga perfis que promovam conteúdo positivo e inspirador.
  6. Priorize o sono: Estabeleça uma rotina de sono saudável, evitando o uso de dispositivos eletrônicos pelo menos uma hora antes de dormir. A luz azul emitida pelas telas pode interferir no sono, então é importante criar um ambiente propício para um descanso adequado.
  7. Pratique o equilíbrio entre vida online e offline: Reserve tempo para atividades fora do mundo digital. Pratique hobbies, exercite-se, socialize pessoalmente e desfrute de momentos de qualidade com amigos e familiares. Encontrar um equilíbrio saudável entre a vida online e offline é essencial para o bem-estar geral.
  8. Cultive a consciência digital: Esteja ciente do impacto que o uso da tecnologia tem em sua vida. Observe como você se sente antes, durante e após o uso de dispositivos eletrônicos. Avalie se você está utilizando a tecnologia de forma consciente e benéfica.

O autocuidado digital precisa ser falado amplamente, tanto quanto se fala sobre a importância de uma alimentação saudável a a prática de atividades físicas. O que consumimos e a forma como nos relacionamos no mundo virtual também é um tipo de alimento, que pode nutrir ou intoxicar nossa mente, resultando em adoecimentos. Saber o que estamos fazendo, com intenção, toda vez que utilizamos os recursos tecnológicos nos coloca como consumidores conscientes. Como costumo dizer aos meus pacientes, “quando nãos sabemos o que estamos  consumindo na internet, nós somos consumidos”.

 

 

Fontes:

  • “Digital Wellbeing” – Google: O Google disponibiliza uma seção específica sobre bem-estar digital, com dicas e ferramentas para ajudar as pessoas a gerenciar o tempo gasto em dispositivos eletrônicos. Disponível em: https://wellbeing.google/

 

 

 

  • DESMURGET, Michel. A fábrica de cretinos digitais: Por que, pela 1a vez, filhos têm QI inferior ao dos pais. Vestígio Editora, 2021.

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