Doomscrolling: Por que estamos viciados em notícias negativas?

O que é Doomscrolling?

Doomscrolling é um termo em inglês que se refere ao ato de rolar incessantemente em feeds de notícias, mídias sociais ou outras plataformas digitais, consumindo conteúdo negativo, assustador ou deprimente. É uma combinação das palavras “doom” (destino ruim, condenação, fatalidade) e “scrolling” (rolagem). Passou a ser utilizado durante a pandemia de COVID e a guerra da Ucrania, e hoje começa a ser investigado por estar associado a sintomas negativos. Esse comportamento é impulsionado pela busca incessante por informações alarmantes, muitas vezes resultando em ansiedade, estresse e fadiga mental. No Brasil ainda não temos estudos que demonstrem o fenômeno na nossa população, mas tem sido muito comum perceber a relação dos sintomas de estresse e ansiedade com a presença deste comportamento nos relatos de pacientes em consultório.

O que o doomscrolling causa no corpo?

Durante o doomscrolling, podem ocorrer várias reações no corpo devida a alteração emocional e à forma como o cérebro processa as informações negativas:

  1. Ativação do sistema de estresse: por envolver o consumo de notícias negativas, perturbadoras ou ameaçadoras, pode ativar o sistema de estresse do corpo, desencadeando a liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina. Esses hormônios podem aumentar a frequência cardíaca, a pressão arterial e a respiração, preparando o corpo para lidar com uma situação de perigo, mesmo que o conteúdo não seja relacionado com nosso contexto de vida.
  2. Aumento da ansiedade: o consumo excessivo de conteúdo negativo pode levar ao aumento da ansiedade. O cérebro pode interpretar as notícias perturbadoras como ameaças iminentes, levando a uma resposta de ansiedade, caracterizada pelos sintomas descritos acima. Esse é um sistema defensivo muito primitivo, o qual não temos acesso e que busca nos proteger, nos informando que algo ruim está por acontecer. Está relacionado a uma parte do cérebro independente da região da consciência, o que faz com que não tenhamos controle sobre estas respostas fisiológicas.
  3. Perturbação do sono: o doomscrolling antes de dormir pode afetar o sono de várias maneiras. A exposição a notícias perturbadoras pode gerar pensamentos intrusivos e preocupações, dificultando a transição para um estado relaxado necessário para uma boa noite de sono. Além disso, a luz azul emitida pelos dispositivos eletrônicos pode interferir na produção de melatonina, um hormônio envolvido no ciclo do sono.
  4. Aumento da fadiga mental: O consumo excessivo de conteúdo negativo pode levar à fadiga mental. O cérebro pode ficar sobrecarregado com informações perturbadoras, resultando em cansaço cognitivo e dificuldade de concentração em outras tarefas.

Por que o doomscrolling é viciante?

O mesmo sendo tão negativo o doomscrolling pode ser viciante por várias razões:

  1. Reforço do sistema de recompensa: o cérebro humano é suscetível ao reforço positivo. Quando encontramos algo que nos traz satisfação, como uma informação relevante ou emocionante, nosso cérebro libera neurotransmissores, como a dopamina, que nos faz sentir prazer. No caso do doomscrolling, mesmo que o conteúdo seja negativo, a sensação de “estar informado” ou “consciente dos problemas” pode proporcionar uma sensação de recompensa, por que a informação é percebida como uma vantagem.
  2. Curiosidade e necessidade de desfecho: a curiosidade é uma força motivadora para buscar informações e resolver incertezas. O doomscrolling pode alimentar essa curiosidade, já que as notícias negativas muitas vezes são apresentadas em formatos que despertam a atenção, como títulos sensacionalistas ou manchetes intrigantes. A busca por desfecho, ou seja, a necessidade de saber como uma história se desenrola ou se resolve, pode levar as pessoas a continuar rolando em busca de mais informações.
  3. Medo de perder algo importante (FOMO): o medo de perder algo importante, conhecido como FOMO (Fear of Missing Out), pode desempenhar um papel no vício do doomscrolling. As redes sociais e outras plataformas digitais são projetadas para manter as pessoas engajadas e fornecer atualizações constantes. A sensação de que podemos perder uma notícia importante ou estar desatualizados pode nos incentivar a continuar rolando compulsivamente.
  4. Efeito de escape: o doomscrolling pode servir como uma forma de escapismo. Em vez de lidar com os desafios da vida real, as pessoas podem se refugiar na rolagem incessante, buscando distração ou evasão emocional. Essa busca por uma “fuga” temporária pode ser viciante, pois proporciona uma sensação de alívio momentâneo por proporcionar distância das dificuldades reais da vida.
  5. Hábitos e condicionamento: o comportamento do doomscrolling pode se tornar um hábito arraigado, influenciado por condicionamento e recompensa. Se uma pessoa está acostumada a recorrer ao doomscrolling em momentos de tédio, estresse ou ansiedade, o cérebro pode associar essa atividade com uma sensação de alívio e buscar repeti-la como um mecanismo automático.

Como previnir o doomscrolling?

Existem algumas estratégias que podem ser úteis no tratamento do doomscrolling. Aqui estão algumas sugestões:

  1. Conscientização e autodiagnóstico: reflita sobre quanto tempo você está dando atenção a notícias negativas, como se sente diante destas informações e se este tipo de conteúdo negativo surge em seu pensamento em forma de preocupações. O limite entre o aceitável e o disfuncional está na intensidade e duração dos sintomas e os prejuízos envolvidos.
  2. Tenha objetivos claros: antes de pegar o celular, pergunte a si mesmo quais são suas intenções. Está buscando informações relevantes? Procurando se manter atualizado de forma equilibrada? Ou está apenas buscando distração ou aliviar alguma sensação ruim? Conscientizar suas intenções pode ajudá-lo a controlar melhor seu comportamento online. Não esqueça que, quando não temos consciência do que estamos consumindo, nós é quem somos consumidos!
  3. Defina limites de tempo: estabeleça limites claros para o tempo que você passa nas mídias sociais e em sites de notícias. Defina horários específicos para verificar as notícias e comprometa-se a não exceder esses limites. Pode ser útil utilizar aplicativos ou configurações no dispositivo para ajudar a controlar o tempo gasto em determinadas plataformas.
  4. Pratique o autocuidado digital: Reserve um tempo para si mesmo e se engaje em atividades que promovam seu bem-estar físico e mental. Isso pode incluir exercícios, meditação, leitura, hobbies ou qualquer outra atividade que você goste. Criar uma rotina de autocuidado digital ajuda a equilibrar o consumo de notícias com outras atividades positivas.
  5. Escolha fontes confiáveis: ao procurar informações, procure fontes confiáveis e verificadas. Evite compartilhar ou consumir notícias sensacionalistas ou não verificadas, pois isso pode aumentar a ansiedade e contribuir para o doomscrolling. O compartilhamento de notícias negativas pode contribuir para que mais pessoas passem a desencadear o doomscrolling.
  6. Pratique o pensamento crítico: ao consumir notícias e informações, desenvolva habilidades de pensamento crítico para avaliar sua credibilidade e veracidade. Isso pode ajudar a evitar a propagação de desinformação e a reduzir a ansiedade associada a notícias falsas ou exageradas.
  7. Estabeleça uma rotina de sono saudável: Evite o doomscrolling antes de dormir, pois pode interferir na qualidade do sono. Estabeleça uma rotina de sono consistente e crie um ambiente propício para um sono reparador.
  8. Diversifique seu feed de notícias: procure seguir contas e páginas que promovam conteúdo positivo, inspirador e informativo. Busque diversidade em suas fontes de informação para obter uma visão mais equilibrada e evitar a polarização.
  9. Busque apoio: se o doomscrolling estiver afetando significativamente sua saúde mental ou sua qualidade de vida, considere buscar apoio de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou terapeuta. Eles podem ajudar a desenvolver estratégias personalizadas para lidar com o doomscrolling e os desafios emocionais associados.

Ao implementar essas estratégias preventivas, você pode estabelecer um relacionamento mais saudável e equilibrado com as mídias sociais e as notícias, reduzindo a propensão ao doomscrolling e seus efeitos negativos.

Tem alguma dúvida ou sugestão de temas sobre comportamento, psicologia, relacionamentos ou saúde mental? Deixe-a nos comentários que poderá ser a próxima matéria do blog!

Fontes:

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