Você já parou para refletir sobre como suas crenças e opiniões são moldadas? É provável que você esteja sujeito a um fenômeno cognitivo chamado viés de confirmação. Neste texto, vamos explorar o que é o viés de confirmação, como ele afeta nosso pensamento e decisões, além de apresentar estratégias para superá-lo. Você compreenderá por que temos que ter cuidado com essa armadilha mental que pode ser perigosa para nossas vidas e para sociedade.
O que é o viés de confirmação?
Viés de confirmação é um fenômeno cognitivo em que as pessoas tendem a buscar, interpretar e lembrar informações de maneira seletiva, de forma a confirmar suas crenças, preconceitos ou hipóteses pré-existentes. Esse viés ocorre quando as pessoas procuram evidências que apoiam suas opiniões e ignoram ou minimizam informações que contradizem suas crenças. É a tendência de concordarmos com pessoas e ideias que concordam com as nossas. Você evita ler matérias, ver notícias ou falar com quem tem opiniões diferentes das suas? Então, esse é o viés de confirmação.
Ele é considerado um resultado de padrões de processamento de informações que ocorrem naturalmente no cérebro humano. No contexto evolutivo, alguns pesquisadores sugerem que o viés de confirmação pode ter surgido como uma forma de eficiência cognitiva. Ao favorecer informações que confirmam nossas crenças pré-existentes, podemos economizar tempo e energia mental, uma vez que não precisamos reavaliar constantemente nossas opiniões. Isso pode ser vantajoso em situações em que a tomada rápida de decisões é necessária.
No entanto, é importante destacar que o viés de confirmação pode levar a erros de julgamento, falta de objetividade e dificuldade em considerar evidências contrárias. Ele pode reforçar a polarização, contribuir para a disseminação de desinformação e prejudicar a capacidade de alcançar um entendimento mais completo e preciso do mundo.
Prejuízos do viés de confirmação
O viés de confirmação pode afetar diferentes aspectos da vida, desde o âmbito pessoal até o científico e o político. Por parecer ter uma função evolutiva, de economia de tempo e energia, ele nos impede de desenvolvermos flexibilidade cognitiva, que também é importante para o nosso desenvolvimento, resultando na manutenção da nossa zona de conforto, crenças e preconceitos, que nos limitará e fará com que busquemos nos relacionar apenas com quem nos identifiquemos. No mundo corporativo contemporâneo este padrão de rigidez tem sido um dos fatores que mais impedem o crescimento profissional nas organizações e no mundo dos negócios, por trazer impedimentos e limitações frente a globalização e a diversidade.
No campo científico, as crenças podem ser extremamente perigosas por comprometerem as estratégias que asseguram o enfrentamento das condições de riscos para nossa espécie. Apesar de percebemos crenças absurdas em quase todos os setores do conhecimento, como as teorias da terra plana, as ciências da saúde são as mais atacadas pelo viés de confirmação. Isso vem refletindo na crescente diminuição da adesão as campanhas vacinais e aos tratamentos oficiais de doenças. Este é o aspecto mais perigoso do viés de confirmação, que coloca tanto a pessoa rígida quanto a sociedade em risco.
No contexto do debate público e da polarização política, o viés de confirmação pode levar as pessoas a se cercarem de informações e opiniões que confirmam suas próprias visões de mundo, reforçando ainda mais suas crenças e tornando-as menos dispostas a considerar perspectivas diferentes. Esse é o ingrediente que gera radicalização, à falta de diálogo construtivo e o reforço de estereótipos e preconceitos, que é o oposto da democracia e da aceitação da diversidade. Nestes últimos anos estamos observando este fenômeno em larga escala, com consequências desastrosas, como o rompimento das relações pessoais e familiares, até crimes hediondos como assassinatos.
O que o viés de confirmação altera no corpo?
O viés de confirmação tem bases neurológicas e fisiológicas relacionadas ao funcionamento do cérebro humano. Existem várias teorias e estudos que tentam explicar esses processos subjacentes:
- Ativação seletiva de redes neurais: o cérebro humano possui redes neurais que processam informações de maneira seletiva, priorizando estímulos que são consistentes com as crenças e hipóteses pré-existentes. Essas redes são ativadas quando encontramos informações que confirmam nossas expectativas, reforçando assim o viés de confirmação. Ou seja, temos uma tendência biológica de percebemos aquilo que esteja de acordo com o que já sabemos e conhecemos. É o que nos faz dizer que não gostamos de algo que nunca experimentamos.
- Dopamina e recompensa: a dopamina é um neurotransmissor que desempenha um papel fundamental na motivação e recompensa. Estudos sugerem que quando recebemos informações que confirmam nossas crenças, há um aumento na liberação de dopamina no cérebro, proporcionando uma sensação de recompensa. Isso pode levar à busca contínua por informações que confirmem nossas visões de mundo.
- Economia cognitiva: o cérebro humano é constantemente bombardeado com uma quantidade enorme de informações. Para lidar com essa sobrecarga, o cérebro tende a simplificar e generalizar informações complexas. Nesse processo, pode ocorrer uma tendência em filtrar seletivamente as informações que são consistentes com nossas crenças, pois isso requer menos esforço cognitivo do que avaliar criticamente informações conflitantes. Vencer preconceitos dá trabalho e nossa biologia busca o tempo todo economizar energia.
Quando se preocupar com o viés de confirmação?
O viés de confirmação não é uma condição médica ou um distúrbio que requer tratamento específico. Em vez disso, é um fenômeno cognitivo comum que afeta a forma como processamos informações e tomamos decisões. Todos nós estamos sujeitos a esse viés em diferentes graus, e isso faz parte da nossa espécie.
No entanto, em certos casos, quando o viés de confirmação é extremamente acentuado e interfere significativamente na capacidade de uma pessoa de avaliar informações objetivamente, pode ser útil buscar apoio profissional, como de psicólogos ou terapeutas cognitivo-comportamentais. Esses profissionais podem ajudar a pessoa a desenvolver estratégias específicas para desafiar seus vieses cognitivos, fortalecer o pensamento crítico e melhorar suas habilidades de tomada de decisão.
O que fazer?
Superar o viés de confirmação pode ser um desafio, mas existem estratégias que podem ajudar a lidar com esse viés cognitivo. Aqui estão algumas abordagens que podem ser úteis:
- Autoconsciência: o primeiro passo é estar ciente da existência do viés de confirmação e reconhecer que todos nós estamos sujeitos a ele. Desenvolver uma consciência pessoal sobre suas próprias crenças, preconceitos e tendências de confirmação pode ajudar a evitar que esses vieses influenciem seu pensamento. Sugiro que você se questione o quanto suas crenças e preconceitos lhe impedem de conhecer e viver experiências que você tem o costume de criticar e atacar, sem qualquer evidência lógica que que aquilo possa lhe trazer algum prejuízo real para sua vida.
- Busque perspectivas diferentes: procure ativamente exposição a diferentes perspectivas, opiniões e fontes de informação. Isso pode incluir a leitura de matérias de diferentes pontos de vista, a participação em debates e discussões com pessoas com opiniões diferentes, ou o consumo de mídia que apresenta visões contrastantes.
- Seja crítico e questionador: quando se deparar com notícias e informações, avalie a qualidade da fonte, busque evidências e argumentos sólidos que apoiem ou contradigam as informações apresentadas. Esteja aberto a revisar suas próprias crenças com base nessas avaliações críticas. Lembre-se que é possível haver muitos pontos de vista sobre o mesmo tema e que não existem verdades absolutas, além daquelas que as leis da física nos fornecem.
- Pratique a empatia: tente compreender os pontos de vista e experiências das outras pessoas, colocando-se no lugar delas. A empatia pode ajudar a diminuir a rigidez das crenças e abrir espaço para considerar diferentes perspectivas. Quando entendemos que o viés de confirmação é um fenômeno que pode estar sustentando opiniões rígidas e contrárias as minhas, podemos ter uma atitude mais compassiva e menos reativa com aqueles que se opõe a nossa forma de ver o mundo. Neste sentido, buscar o diálogo e explicar sobre o viés de confirmação, pode ser a melhor forma de auxiliar as pessoas a serem menos radicais e mais abertas ao desconhecido.
Se você conhece alguém que usa o viés de confirmação intensamente, envie esta matéria e proponha uma discussão sobre o assunto!
Tem alguma dúvida ou sugestão de temas sobre comportamento, psicologia, relacionamentos ou saúde mental? Deixe-a nos comentários que poderá ser a próxima matéria do blog!
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Fontes
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